O Repórter Esso

Quando não existia tv, nossa referência como programa noticioso era o Repórter Esso. Foi o primeiro noticiário do rádio jornalismo brasileiro. Era patrocinado por uma empresa norte-americana chamada Standard Oil Company of Brazil, conhecida como Esso. Seu slogan era: “o primeiro a dar as últimas e testemunha ocular da História”. Sua primeira transmissão aconteceu pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em 1941, fazendo a cobertura da Segunda Guerra Mundial. A proposta era exatamente fazer a propaganda daquele conflito bélico para nós brasileiros em favor dos Estados Unidos. Sua última apresentação ocorreu em 1968.

Sem dúvida, apesar do direcionamento político alinhado ao governo norte americano, foi a escola do rádio jornalismo nacional. Tinha a duração de cinco minutos, em quatro edições diárias, sempre abrindo com uma “noticia urgente”. A estrutura sintética do noticiário do Repórter Esso, ainda é observada até hoje pelos veículos de comunicação nos seus programas jornalísticos. Suas características eram a pontualidade, texto vibrante e sucinto, tentando aparentar neutralidade na informação. O fato é que o Repórter Esso pairou absoluto durante vinte e sete anos no rádio brasileiro.

A posição ideológica era notada nas suas primeiras edições, durante a guerra, pelas expressões relacionadas aos norte-americanos, tais como: “poderosas forças”, “vigorosas lutas” e “histórica resistência”. Enquanto depreciava os adversários chamando-os de “tragicômico Duce”, “sanguinário fascismo” e “vermelhos” quando se referiam aos russos, chineses e norte-vietnamitas. Seus apresentadores mais conhecidos foram: Romeu Fernandes, Rubens Amaral, Celso Guimarães e Heron Domingues, este último o mais consagrado entre eles.

Apesar da sua vinculação com o governo ianque, não escapou à censura da ditadura militar. Em primeiro de abril de 1964, logo após o golpe, o apresentador Fábio Perez, da rádio Tupi, foi barrado por um oficial do exército, sob a justificativa de que a revolução tinha se consumado e que, a partir de então, tudo tinha que passar pela análise prévia dos censores.

Ainda hoje guardo na memória a entonação vibrante de Heron Rodrigues nas suas apresentações. Era impecável na postura e no ritmo da leitura do que noticiava, adotando um padrão narrativo que serviu de parâmetro para os programas jornalísticos que o sucederam. Quando ouvíamos de longe a vinheta de abertura, corríamos para aumentar o volume do rádio na intenção de tomar conhecimento do que se passava pelo mundo e pelo Brasil.

Foi, portanto, através do Repórter Esso que acompanhamos os principais fatos políticos, sociais e econômicos, que construíram parte da história do país e do mundo. Várias gerações, inclusive a minha enquanto pré-adolescente, cresceram ouvindo e acreditando no que noticiava o Repórter Esso. Ficava fácil para os americanos fazer a nossa cabeça, usando o rádio como instrumento político. Havia uma nítida intenção de influenciar a opinião pública. O rádio era o único veículo utilizado como meio de massa. Nos anos quarenta a Rádio Nacional monopolizava o noticiário nacional. O monopólio midiático já atuava como manipulador da consciência popular.

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