O motim

LINALDO GUEDES

Nos meus mais de 30 anos de jornalismo nunca vi algo parecido com o ocorrido ontem, quando aconteceu um motim dos secretários contra a decisão do prefeito Zé Aldemir de apoiar Neguinho de Mondrian para as eleições deste ano. Sim, o que aconteceu ontem foi um motim. Um movimento coletivo de sublevação contra a autoridade máxima do município. Pior: um motim de secretários e auxiliares que no dia anterior foram comemorar o aniversário do prefeito em sua residência, batendo palmas, cantando parabéns e tecendo loas ao gestor, enquanto combinavam a insurreição no breu das tocas, como diria a célebre canção de Chico Buarque.

Estava no governo do estado quando presenciei e fui testemunha de grandes crises políticas na Paraíba. Era chefe de Reportagem do jornal A União quando houve o tiro em Burity. Foi um Deus nos acuda no jornal do governo, Cícero assumiu a gestão e ninguém fez motim. Teve, ainda, o episódio do Campestre, em Campina Grande, quando Ronaldo colocou o dedo na cara de Maranhão e depois os Cunha Lima saíram do governo e assumiram o PSDB na Paraíba. Por essa época estava na Secom, como diretor de Jornalismo, e o clima também foi tenso naqueles dias. Lembro ainda de episódios de bastidores quando da cassação de Cássio Cunha Lima. Mas nada comparado ao acontecido ontem em Cajazeiras.

Zé Aldemir pecou por excesso de confiança em alguns assessores. Desde que retornei para cá, em 2017, tenho visto algumas figurinhas carimbadas do cenário político e administrativo da cidade que mudam de lado todo ano eleitoral. Teve um que rompeu com Zé, foi para a oposição, perdeu a eleição, pediu abrigo de novo no governo de Zé (e teve) e já rompeu novamente com a gestão, indo para a oposição.

Independente de apoio a A, B ou C nas eleições deste ano, não pode ser considerado natural passar sete anos usufruindo das benesses do poder e sair em ato coletivo de insurreição às vésperas de uma viagem do prefeito a Europa. A preço de hoje, temos três pré-candidatos à prefeitura de Cajazeiras: Neguinho de Mondrean, Chico Mendes e Pablo Leitão. Todos os três têm pregado debates de alto nível e fidelidade aos seus princípios. Duvido que, sendo eleitos, eles dariam guarida a pessoas que mudam de lado como quem troca de wi-fi. Quem faz um cesto, faz um cento, já diziam meus antepassados.

LINALDO GUEDES É JORNALISTA

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
CLIQUE E LEIA

Zorra tributária

Como nominar um sistema de cobranças de impostos de um país que possui 92 tributos entre impostos taxa…
Total
0
Share