O Enem censurado

A censura às questões do Enem é uma novidade adotada pelo atual governo desde 2019. Naquele ano, sessenta e seis perguntas foram excluídas das provas por uma comissão nomeada pelo Presidente da República, sem qualquer consulta à equipe técnica do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, constituindo-se numa indébita e injustificável intervenção nesse exame nacional para ingresso de estudantes ao curso universitário.

Na tentativa de justificar o injustificável, o primeiro mandatário da Nação asseverou que o propósito era fazer com que o Enem passasse a ter a cara do governo. Absurda explicação para um ato de interferência num processo que sempre possuiu uma incontestável credibilidade acadêmica. O grupo censor que o governo montou teria a incumbência de analisar ideologicamente as questões dos exames, observando fidelidade ao pensamento do presidente da república.

Trinta e sete servidores do INEP pediram demissão sob a alegação de que estavam sofrendo assédio moral, com pressão ideológica. As alegações apresentadas pelos censores, para excluir essas questões, seriam cômicas se não fossem relacionadas com assunto tão sério, desconsiderando aspectos técnicos para a tomada dessa decisão. Nos anos recentes o Exame Nacional do Ensino Médio tem sido prejudicado por sucessivas trapalhadas: furtos das provas, erros de impressão e vazamentos de informações.

Há informações de que agentes da Polícia Federal se fizeram presentes ao local onde são elaboradas as provas, configurando-se, pois, indícios de censura por parte do governo federal, num episódio de inadmissível imposição doutrinária. Interessante, que o argumento utilizado é exatamente o de combater o processo de incutir idéias que incomodassem o pensamento político-ideológico do presidente. A doutrinação, então, é aceitável quando atende os interesses do governo de plantão? Que contradição!

Amanhã ocorrerão as provas com a menor participação de candidatos ao ENEM nos últimos treze anos. A inviolabilidade das provas está seriamente comprometida. Em novembro de 2018, logo após ser proclamado eleito, o presidente chegou a criticar uma questão que citava a comunidade LGBT, afirmando categoricamente que “não vai ter questão dessa forma no ano que vem, porque nós vamos ter conhecimento do conteúdo da prova antes”. Precisa dizer mais alguma coisa? O estrago dessas ações é de tamanho desconhecido. Porém, não há dúvidas de que a credibilidade do Enem está comprometida, sem precedência na sua história.

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