O cantor José Gonçalves Moreira

José Gonçalves Moreira cumpriu, até o dia 16 deste mês, sua missão na terra. Aqui viveu quase 100 anos, ainda lúcido, segundo me informa o advogado Moreira Lustosa, que esteve com ele há poucos meses, a procura de informações para o ensaio genealógico acerca da numerosa família Moreira. Em sua velhice tranquila, Zé Gonçalves foi uma fonte preciosa. Não posso dizer que ele era meu amigo. Conhecido de muito tempo, isto sim, desde criança, ouvinte dos serviços de alto falantes, na pré-história da radiofonia cajazeirense. Até guardo na memória cenas vividas em minha adolescência.

Desportista, um dos fundadores do Atlético, locutor, político, prefeito de Bom Jesus mais de uma vez. Antes, em 1955, tentou ser vereador em Cajazeiras, pelo PSD. Bateu na trave. A voz do radialista permanece viva, ao lado de outras, daquela época: José Adegildes, Rubens e Augusto Farias, Carlito Holanda, Francisco Bastos… são os nomes que agora me ocorrem. Dessa legião, Zé Adegildes virou meu amigo, apesar da diferença de idade. Ele me levou para a Difusora Rádio Cajazeiras – DRC, quando falava para os quatro cantos da cidade do primeiro andar de Carvalho & Dutra, no começo da avenida Presidente João Pessoa. Ali, muitas vezes, li textos de propaganda, datilografados em tirinhas de papel, controlava as músicas, essas coisas normais em serviços de alto falantes. Um faz quase tudo. Em 1955, ensaiamos um programa de entrevista ao qual demos este nome singelo: Uma vez por semana. Durou pouco. Morreu quando tentei entrevistar o prefeito, Otacílio Jurema!

Antes disso, uma caravana cajazeirense foi inaugurar o primeiro serviço de alto falantes em Marizópolis, ainda distrito de Sousa. Uma das muitas iniciativas do irrequieto Zé Adegildes. (Hoje, patrono da ACAL). José Gonçalves era a figura mais destacada do grupo. Após a inauguração, com discursos de exaltação ao progresso da terra, a cerveja reinou na calçada do bar, vizinho da difusora. Aí aparece um violão! Pronto, logo Zé Gonçalves, cantor e boêmio, fez a alegria da diminuta plateia. A música mais cantada? Normalista, instigada pela presença de atraente jovem de olhar aceso, que fazia questão de desfilar, pra lá e pra cá, colada à turma. Ah, que insinuantes olhares, cruzados, e os pedidos de bis, atendidos pelo então improvisado cantor José Gonçalves, a voz romântica, a ecoar na noite de Marizópolis!

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