Em busca de um paraibanês

A recordação nos faz, em parte, voltar ao passado até quando nos vêm à memória os usos e os costumes linguísticos e culturais de um passado recente. Tanto é assim que vem proliferando e “viralizando” na internet o uso de termos e expressões que ouvíamos e que se vão esvaindo no nosso vocabulário. Que o diga o meu amigo Jessier Quirino, um amante inveterado desse uso.

Têm-se escrito e publicado por este Nordeste livros e até dicionários de um chamado linguajar que se vai fossilizando. Por meio desses verdadeiros compêndios, já conheço o “pernambuquês” e o “cearês”, mas não me consta que alguém já tenha cuidado de publicar um dicionário do “paraibanês”. Bem que seria distrativo, mas, ao mesmo tempo, traria para os estudiosos momentos de revitalização do seu uso e – por que não dizer? – proporcionaria estudos envolvendo o aspecto dinâmico da linguagem, uma das vigas mestras da Linguística moderna.

Vou, então, repartir e rememorar com os meus leitores um pouco de minhas lembranças vocabulares regionais que se vão extinguindo no dia a dia. O fato é que estão envolvidos nessas expressões e nesses vocábulos alguns aspectos que, tecnicamente, chamamos de suprassegmentais, ou seja, que sofrem alterações semânticas diante de situações em que são articulados. Vejamos alguns exemplos: – Eita! Qui bixim danado! Imagine que, na dependência da situação em que a expressão foi dita, ela tanto pode nos induzir a um elogio (num momento em que o tal bixim nos deu uma resposta inteligente), como a uma reprovação (quando dita num momento em que ele praticou algum ato ilícito).

Por outro lado, algumas outras expressões poderão servir de exercício cultural, quando se imaginam as várias situações em que foram expressas: Tá na peinha de nada! -Tá fazendo arte!

Havia também o uso de palavras como tiquinho, pequenininho… (o uso desta última sempre me pareceu uma redundância; bastava se dizer pequenino ou muito pequeno); curiosamente as mulheres parturientes ou puérperas eram chamadas, como ainda o são, de grávidas, mas, após darem à luz, simplesmente ficava, de resguardo, quando tinham que permanecer durante quarenta dias sem praticar atividade nenhuma, sendo alimentadas à base de canja de galinha (hoje, no máximo, descansam por sete dias…); as crianças, que hoje praticam o malfadado bullying, simplesmente futricavam; um problema sério ocorria com relação ao aspecto que hoje se chama de diversidade de gênero: os que hoje são chamados, respeitosamente, de  homoafetivos – eram chamados apenas, mas depreciativamente, de rapazes educados…

Que os leitores organizem suas listas de palavras e expressões ditas antigas. Certamente, estarão fazendo um ótimo exercício mental!

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