E o tempo passou

Neste dia 13 de junho estarei completando 78 anos de vida. Nasci no Distrito de Engenheiro Avidos, município de Cajazeiras, em 1946, sou o primeiro de uma prole de nove filhos, nascido do ventre de Leopoldina de Brito Albuquerque. Meu pai Francisco Arcanjo teve que ir às pressas, numa canoa, pegar uma parteira na bacia do Açude de Boqueirão para fazer o parto, que foi realizado na casa dos meus avôs maternos: Trajano José de Brito e Benvinda Afonso de Carvalho, porque na casa de meus pais não tinha uma cama.

Tive uma vida cheia de mimos sob os intensos cuidados de minha mãe, que era feita de sol e luz e tenho comigo as lembranças da budega e de um balcão, que enquanto minha mãe despachava os fregueses eu ficava em cima dele dentro de uma “cuia de oito”, que servia para medir farinha, enquanto ouvia o som limpo de um rádio Philips, o primeiro a chegar à vila, comprado na loja de Murilo Bandeira. Foi nele que ouvi a notícia do suicídio de Getúlio Vargas.

O Rio Piranhas era minha paixão, onde sempre me arrisquei em nele tomar deliciosos banhos, extremamente proibidos por meus pais, porque corria o risco de morrer afogado. O rio foi também motivo de várias surras com cipós de salsa, dadas por meu pai pela minha desobediência e teimosia.

Um fato que nunca esqueci foi no dia em que uma banda música apareceu na Vila desfilando e passou em frente da nossa casa e do jeito que eu estava, só de calção, sai correndo, alucinadamente, atrás dela e embalado pelos seus lindos dobrados chorava de emoção. Talvez, por guardar na memória este inesquecível momento é que tenho uma verdadeira paixão por bandas de músicas porque elas me deixam voar pelo espaço em busca da minha infância.  

Meu pai sempre foi um homem de muita visão e nas suas viagens para Campina Grande, no caminhão alugado de Antonio Aristides, para transportar as mercadorias para sua budega, no inicio dos anos 50 comprou uma geladeira a querosene, a primeira a chegar à Vila e a partir daí minha mãe não teve mais sossego: quanto mais fazia refresco para vender bem geladinho mais fregueses apareciam e dentro de um mês, só com o lucro, a geladeira foi paga.

A escola aonde fui alfabetizado ficava em frente da nossa residência, numa casa que pertencia ao DNOCS e minha primeira professora foi Nilza de Mentim, que não só me ensinou a ler e a escrever, mas quando nos mudamos para Cajazeiras já sabia todas as operações aritméticas, incluindo os números arábicos, fato que me proporcionou ingressar no Grupo Escolar Dom Moisés Coelho, depois de uma entrevista com a diretora Angelina Tavares. Meus pais começavam a tanger a caravana pelo deserto em busca do oásis. Era um sonho que voava nas suas imaginações, educar os filhos.

Como são belos os dias do despontar da minha existência e se a memória não trair minhas lembranças, quero amarrá-las nas caudalosas enchentes do Piranhas até chegarem e prendê-las nas paredes do Açude Engenheiro Avidos e nos momentos de intensos calor evaporarem em busca do infinito e do céu azul do sertão.

Quando Deus soprou, no útero da minha mãe e disse no seu ouvido: eis o teu filho, deixa-o ir em liberdade em busca do seu destino. E minha mãe esteve sempre do meu lado até a sua páscoa para a eternidade, como um ser que se transformava a cada instante em um turbilhão de doçura e amor.

2 comentários
  1. Pássaro dia e noite lendo as lembranças do Dr. José Antônio, pela sua descrição envolvente .

  2. Parabéns pelo “E o Tempo Passou “, pois traduz o seu profundo envolvimento pela forma como viveu esses fatos.

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