Amigos

Não sou bom em lembrar datas comemorativas. Minha salvação é que hoje em dia as redes sociais te avisam, e mostram, até a foto que você tirou há um ano, ou muito mais.

Efemérides? Ih, nem mais precisamos nos preocupar. Quando se abre o computador, ou o celular, já está lá o registro do que está sendo comemorado no dia e quem, de sua agenda, está aniversariando. É o fortalecimento da preguiça da memória, ou avanço da tecnologia beneficiando o homem.

Pois fui avisado na última segunda-feira, dia 20, que era dia do amigo. Quando ativei o celular pela manhãzinha, flores e champanhe virtuais espocaram sobre a mesa do café. O jornal impresso que eu estava lendo ficou respingado e o ambiente da cozinha, aromatizado de café passado a pouco instante, infestou-se pelo o bálsamo da amizade. Ahhh, suspirei, como é bom ter amigos!

Acessei meu Facebook e vi o quanto sou querido. Tenho trezentos e quatro amigos. Fiquei encantado comigo mesmo por esse círculo de amizades. Diante de tanta felicidade minha filha riu, e era um riso me achando ingênuo. Ué, filha, isso não é legal? Falou que sim, mas era um número inexpressivo.

Dei uma navegada em outras contas e vi que realmente sou praticamente um ser solitário com os mixurucas trezentos e quatro amigos. Tem gente com quatrocentos, seiscentos, oitocentos, mil! Mil amigos? Putzgrila! Me senti mais isolado do que o mais isolado dos isolados da covid-19. Arregalei os olhos mais do que o jovem Alex, do filme Laranja Mecânica, quando vi que tem gente com três mil !, quatro !, cinco mil amigos! Até vou parar de colocar tantas exclamações porque meu assombro é fruto do desconhecimento de que as redes sociais é um mar de amizades.

Mas, peraí. Esses comentários frequentes raivosos e ácidos em postagens não são contraditórios para essa gente que tem um coração enorme com seus milhares de amigos? Ou tudo não passa de máscara? Sim, eu sei, hoje todo mundo usa máscara, mas a que estou me referindo trata-se da ausência do afeto de gente que é rodeada de amigos aos milhares.

Eu, heim! Ou tudo não passa de um universo de amizades de fachada? O que mais li nas mensagens desse dia do amigo foi a frase da música de Milton Nascimento: “amigo é coisa pra se guardar / Debaixo de sete chaves / Dentro do coração…

Pelo jeito é melhor reduzir essas amizades de números exagerados e aumentar o número de amigos que estão debaixo de sete chaves dentro do coração.

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