A primeira eleição de Tasso Jereissati em Cajazeiras

Corria o o Ano da Graça de 1986, em Cajazeiras, assim, como em todo o interior do nordeste, o “antonymus grandis”, popularmente conhecido como o bicudo do algodoeiro, já apresentava suas primeiras manifestações que no final iriam extinguir nossa cultura plurissecular. E nós, como nosso bispo diocesano (natural de Umari-CE) se autoproclamava; os chamados ”perigosos homens de fronteira”, nos dedicávamos a fazer o que nossos ancestrais faziam há quase dois séculos: passar pela fronteira estadual do Ceará para a Paraíba e vice-versa, conforme as “condições de mercado”, o nosso “ouro branco”.

Nesse tempo, Cajazeiras recebia o sinal da TV Verdes Mares e a eleição da Paraíba era desinteressante. Mas havia a primeira eleição moderna se processando no Ceará, a que elegeu Tasso Jereissati governador, e o que se falava na cidade era o confronto da nova política com a velha política dos coronéis e a campanha organizada pelo que hoje chamamos de marqueteiros políticos, que hoje conseguem eleger quase qualquer um para qualquer cargo, mas naquele tempo era novidade, tinha o apresentador que tinha um sorriso bem largo, que a gente chamava de “boca de piano”, houve o caso da coca-cola de um real, e outras armadilhas preparadas pelos coronéis que a coordenação de campanha conseguiu evitar.

Na cidade, o assunto do momento era paradoxalmente a eleição do Ceará, como que Cajazeiras tivesse se desligado da Paraíba e fizesse parte do nosso Estado vizinho, em todos os bares, reuniões e rodas de amigos. Essa repercussão foi tão grande, que quando foi noticiado que a comitiva de Tasso pousaria em Cajazeiras, para tomar um helicóptero e visitar as cidades menores da região, se juntou uma grande comitiva do PMDB no aeroporto, e Tasso fez uma carreata no centro de Cajazeiras. Sucesso absoluto.

Então nós entusiasmados com essa campanha inédita, resolvemos dar nossa contribuição: o prefeito de Umarí era adautista ferrenho e tinha prometido que Tasso não teria votos significativos em nenhuma urna de Umari. A gente era proprietário de uma fazenda nesse município, o Sítio Flores, e nosso gerente era muito considerado na região; então resolvemos fazer uma chapa e umas feiras para ele distribuir nos sítios vizinhos, na surdina.

Compomos a chapa da seguinte forma: Governador: Tasso; Deputado Federal: Humberto Bezerra, irmão de Adauto, nosso parceiro no ramo do algodão, Senador: escolhemos por sorteio, Deputado estadual: o primo de Heber Cavalcanti, que ainda hoje tem uma casa de produtos agrícolas aqui, mas é de Iguatu. Pronto, estava feita a chapa, e uma semana antes da eleição mandamos distribuir as chapas e as feiras. Todos votavam numa urna do distrito de Icozinho, município de Umari, e de lá saíram sessenta votos com essa chapa anômala.

Não tenho certeza, mas acho que Tasso ganhou nessa urna, o que deixou o prefeito furioso, exclamando: “de onde diabos saíram esses votos doidos???” Fizemos nossa parte.

Na outra eleição, vieram os mesmos candidatos: Tasso, Sérgio Machado, etc., era um domingo, eu estava fazendo a manutenção das máquinas. Quando o avião pousou. Eu peguei o carro e fui ao encontro deles, e havia duas pequenas comitivas uma de Ipaumirim, e outra de Aurora. E Tasso estranhou: ‘Não vai haver a passeata?” Eu expliquei: “não governador, pois o sinal de TV que recebemos hoje é o da TV Paraíba, e ninguém soube de sua chegada, nem eu…”

P.S. – Dedica-se esse texto a dois grandes amigos que acabaram de nos deixar: Dr. Oscar Sobral, o “médico das buchudinhas” e Antônio “Toim” Bibiano, falecido quarta-feira. Os amigos não morrem: eles “se encantam”. Que a Paz do criador os cubra.

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