A campanha de 1972 e suas consequências

Estive no último sábado numa bela cerimônia a que fui convidado, a entrega de título de Cidadão cajazeirense para Lana de João de Deus e João de Deus Quirino Filho, e a entrega do título de Cidadão Benemérito ao ex-prefeito, deputado, etc., Antônio Quirino de Moura, um evento digno de nota, que deve ser publicado nesta edição do Gazeta, com o destaque que fazem por merecer todos os homenageados.

Agora o propósito que me motivou a escrever essas linhas foi que o propositor de algumas dessas comendas, o ex-vereador Chagas Amaro, figura extraordinária, que faz falta a nossa edilidade, e por quem nutro enorme respeito e carinho, no seu discurso, não ter apresentado o verdadeiro motivo que levou ao homenageado ter galgado à prefeitura com menos de trinta anos, sem que um ano antes seu nome fosse sequer cogitado para ocupar tal cargo, que, vale salientar, ele desincumbiu de forma a se tornar um dos melhores administradores que esta cidade já teve.

Se meu grande amigo Chagas Amaro, repito, um dos maiores historiadores de nossa região não soube apresentar precisamente este fato, é porque pouca gente, mas muito pouca gente mesmo, tem a noção exata do que realmente aconteceu, e que por um enorme acaso, eu tive a oportunidade de testemunhar. Ele apresentou como motivo algumas verbas da SUDENE, que a algodoeira Galdino Pires S/A teria levantado. Esta, nessa época era uma empresa tão capitalizada a ponto de desprezar essas verbas, que ao meu ver, hoje, foi um erro, pois foi com essas verbas que foram construídas grande parte das fortunas atuais de nossa Região Nordeste; mas vamos aos fatos.

1972: Auge do que hoje se costuma dizer Ditadura, mas que na época se chamava de Revolução. Cajazeiras experimentava um dos seus maiores surtos de progresso, juntamente com todo o país: O Milagre Econômico, que podia ser claramente percebido com o asfaltamento da BR 230, que liga nossa cidade até hoje ao resto do mundo.

O Governador do Estado, eleito indiretamente, era Ernani Satyro, que tinha sido na sua juventude colega de Lyceu Paraibano e de pensão em João Pessoa de dois irmãos de Cajazeiras: Waldemar, e Higino (Gineto) Pires. O primeiro, médico, não tinha o menor interesse por política, então nada mais natural que o Governador escolhesse seu outro colega, o maior industrial da cidade àquela época, para dirigir os destinos de Cajazeiras, seria o “homem de confiança”, ou como Ernani dizia, “o Amigo Velho” do governador, e assim foi feito, a então poderosa ARENA, o partido do Governo, indicou Gineto para ser o candidato a prefeito a pedido do Governador.

Mas havia nessa formidável muralha, uma brecha, e existia no então minúsculo MDB, um advogado capacitado e à espera de um lugar ao sol: Bosco Barreto.

Naquele tempo, o todo poderoso Delfim Netto quis acabar com o sistema financeiro não hegemônico, que fugia ao seu (deles – os grandes capitalistas de então) controle, haviam espalhadas pelo País centenas, ou mesmo milhares de pequenas cooperativas de crédito, entre elas, a Cooperativa de Credito Agrícola de Cajazeiras, que foi durante muito tempo presidida pelo também ex-prefeito Antonio Cartaxo Rolim. Gineto, assim como outros “Grandes Cidadãos” de nossa cidade, era um de seus diretores. E esta, assim como outras muitas, foram liquidadas bem no começo dos anos 70. E havia uma lei (ainda hoje há) que torna inelegíveis os diretores de casas de crédito liquidadas, judicialmente ou extra judicialmente, como era o caso de nossa Cooperativa de Crédito Agrícola. Não foi nossa cooperativa o caso único, nem esta foi por desvio de verbas, mas uma política de governo, pois, na época, quando o juiz de Alagoa Grande esteve aqui apresentando uma peça em que ele era diretor, pediu para eu mostrar a cidade, e quando viu o então imponente prédio da nossa Cooperativa Agrícola, ele me disse: É assim mesmo, lá em Alagoa Grande, fecharam três cooperativas de crédito.

Então, e esse é o fato que vim a testemunhar, no começo da campanha, num fim de tarde, chega munido de alguns documentos, Bosco Barreto, então, quase desconhecido politicamente, na frente de nossa casa, onde se reunia o pessoal envolvido na campanha (minha mãe, Ica, era figura de destaque), na praça que hoje se chama Galdino Pires, dizendo mais ou menos assim: Gineto, eu venho aqui porque meu pai, Vicente Barreto (um dos seus maiores amigos e grande corretor de algodão da firma Galdino Pires) me mandou: O Sr. foi diretor da Cooperativa de Crédito de Agrícola de Cajazeiras esta foi liquidada, e eu vou pedir a impugnação de sua candidatura e vou conseguir. Assim, na maior calma do mundo da forma mais amistosa possível. Eu era um dos que, mesmo com 16 anos, vi e ouvi: Foi em frente da minha casa.

Ninguém acreditou, pois a ARENA, partido do governo, tudo podia, e com a garantia do Governador, não se deu importância e se seguiu com a campanha de Gineto, mas o Tribunal Regional Eleitoral impugnou a candidatura da ARENA, e por unanimidade. Não preciso dizer que a candidatura do MDB, especialmente a de Bosco Barreto, explodiu, sendo até hoje o momento de onde partiu a poderosa liderança de Bosco, hoje lendária. 

Então, com esta inesperada impugnação, se olhou em volta das candidaturas alternativas que dispunha a ARENA, e quase todo mundo, Dr. Iemirton Braga, Sargento Barbosa, Dr. José Araruna, Deusdedit Leitão, entre outros, não tinham pedido desligamento do cargo e eram inelegíveis. Ai aparece alguém, um nome inusitado, outro jovem advogado como Bosco, Antônio Quirino de Moura, seria aquele negócio de predestinação, estrela, o que quiserem chamar, desincompatibilizado, e em menos de noventa dias de campanha, (uma obra conjunta, Epitácio, Edme, os Pires, os Braga, os Araruna, João Rodrigues; todos) se uniram em favor da candidatura de Antonio Quirino, e na minha opinião, pelo que vi na época, como a Zona Rural era mais forte e conservadora, e essa improvável candidatura, deu uma virada e venceu a eleição por estreita margem. Tão estreita, que até hoje se desconfia da lisura do pleito, foram 231 votos (salvo engano), num universo de cinco mil. 

Então, Eleito, Quirino pode escolher seus auxiliares, e escolheu o que havia de melhor e com muita juventude e vontade de trabalhar, fez uma grande administração, e o resto é História, tendo sido ele eleito depois Deputado Estadual, assim como pelo outro lado, Bosco Barreto, se colocou sobre seu prestigio colhido na expressiva votação dessa eleição, e também foi Deputado Estadual e suplente de Senador, estabeleceu sua liderança; O MDB de Cajazeiras era a partir daí, um dos que dispunham de maior eleitorado, proporcionalmente, na Paraíba. A comenda recebida por Quirino tem o nome de Bosco Barreto, um significativo reencontro da nossa História.

Em conseqüência desses fatos que acabei de narrar, se desenrolou toda a História política recente de nossa cidade, com reflexos até hoje. Testemunhado por mim…

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