Deusdedit Leitão, o pesquisador

DEUSDEDIT DE VASCONCELOS LEITÃO

* Cajazeiras (PB), 07/05/1921
+ João Pessoa (PB), 01/04/2010

Deusdedit de Vasconcelos Leitão nasceu no dia 7 de maio de 1921, na cidade de Cajazeiras; filho do casal Eliziário Gomes Coelho e Maria Madalena de Vasconcelos Leitão. Foi batizado a 29 de outubro de 1921 na Matriz de São José de Piranhas, tendo como padrinhos os tios-avós Sabino Nogueira de Vasconcelos e Vitória Nogueira Menezes.

Casou-se, em Patos, com D.ª Maria José César de Vasconcelos, tendo nascido dessa união os filhos: Rui, Rita de Cássia, Maria de Fátima, Elza Helena, Nísia Magda, Eliziário, Wilson e Wilton.

Origens e andanças

Seu pai casou-se em 1914 no sítio Pilões, em Brejo do Cruz, onde exerceu por pouco tempo a faina de agricultor, alternando sua residência entre o sítio Pilões e São José de Piranhas, donde, tangido pela seca de 1919, foi para Cajazeiras. Ali se tornou funcionário da Inspetoria Federal das Obras Contra as Secas. e, em 1921, nasceu seu quinto filho – Deusdedit Leitão. Carregando sua prole, Eliziário foi um itinerante contumaz, pressionado pelas necessidades. De Cajazeiras, em 1922, foi transferido para Sousa, e dali para a sede da Inspetoria das Secas, em Natal, no Rio Grande do Norte. Em 1924, foi nova-mente transferido para Acari. Tendo ganhado um dinheirinho, Eliziário resolveu instalar-se como comerciante na cidade de Parelhas, empreendimento que lhe deu condições de retornar a Cajazeiras pensando na educação dos filhos, o que aconteceu em 1928. Estabeleceu-se com uma mercearia, que teve breve duração. Retornou à Inspetoria Federal das Obras contra Secas, indo localizar-se na parada de trem Floriano Peixoto da Rede Ferro-viária Cearense, em Quixadá, no Ceará. Como os dinheiros estavam curtos, resolveu, em 1930, ir para Missão Velha, também no Ceará, onde os amigos lhe conseguiram a titularidade do segundo Cartório de Missão Velha.

Dentro dessa itinerância de Eliziário, o menino Deusdedit ia conhecendo cidades.

As ligações de Eliziário em Missão Velha eram com os perrepistas, que apoiavam a candidatura de Júlio Prestes à Presidência da República. Quando estourou a Revolução de 30, Eliziário ficou em maus lençóis. Graças à ação do interventor do Ceará, Manoel Fernandes Távora, irmão de Juarez Távora, ele foi mantido como titular do Cartório. Na seca de 1932, Eliziário pediu dispensa do Cartório e voltou à Inspetoria das Secas, sendo lotado na Residência da Transnordestina, situada em Alto Santo, pequena localidade de Limoeiro. Em 1933, retornou a Missão Velha, reassumindo suas funções no Cartório. Em 1935, por perseguição política do governador Menezes Pimentel, foi destituído do Cartório, tendo falecido em 31 de janeiro de 1936.

Essa caminhada de Eliziário Leitão serviu para influenciar os primeiros quinze anos de Deusdedit, influência pelo exemplo de perseverança e resistência às adversidades da vida. O exemplo de morar em tantos lugares levou Deusdedit a conhecer um grande número de cidades paraibanas, cearenses e norte-rio-grandenses, e pessoas.

Estudos

Deusdedit iniciou seus estudos em Boqueirão de Parelhas (RN), Floriano Peixoto e Missão Velha (CE). Em Missão Velha ajudava seu pai nos afazeres do Cartório, sem dúvida um estímulo à sua mania de escrever detalhadamente seus trabalhos que enriquecem nossa historiografia.

Em Cajazeiras, estudou no Colégio Padre Rolim e no Instituto São Luiz, criado pelo educador Hildebrando Leal. Não tem formação acadêmica, o que não o impediu de exercer as mais diversificadas funções ligadas à Educação e á Cultura do Estado.

É, como muitas pessoas ilustres, um autodidata vitorioso nas letras, tendo se dedicado à História, sobretudo à Historia Paraibana.

Primeiros empregos

Seu primeiro salário foi de cinco mil réis, numa loja de tecidos, quando a família retornou a Cajazeiras em fevereiro de 1936, após a morte do seu pai, em Missão Velha.

Seguiu-se um emprego na construção do açude Engenheiro Ávidos, em Boqueirão de Piranhas, com Artemísio Laurentino de Medeiros, empreiteiro da Inspetoria de Obras Conta as Secas. Sua função era de “apontador” para controlar a presença dos operários. Uma função leve, que dava condições de ir à sede do povoado, onde se tornou campeão de bilhar. Concluído o trabalho da empreiteira, retornou a Cajazeiras. Voltou a trabalhar noutra casa de tecidos – A Vencedora. Em 1937, foi trabalhar em Lavras, na agência da Singer, um emprego que atribui aos irmãos mações do seu pai. Durou pouco essa ocupação, retornando ele a Cajazeiras ainda no primeiro semestre de 1937, empregando-se numa mercearia pertencente a Chateaubriand Pereira, cujo salário era compensado com as compras para a família. Seu tio Cícero Leitão levou Deusdedit para trabalhar na povoação Balanço, do município de Cajazeiras. Cícero era agente fiscal, mas resolveu estabelecer uma mercearia e uma pequena loja de tecidos naquela povoação, entregando a Deusdedit o estabelecimento como se fosse de sua propriedade.

A vida de povoação era tão tranqüila que Deusdedit teve tempo para fazer sonetos, porém reconheceu logo que esse não era o seu ramo, conforme confessa em seu livro de memórias INVENTÁRIO DO TEMPO. O empreendimento não deu certo, retornando Deusdedit a Cajazeiras, pensando em ajudar sua mãe, que mantinha a família com o ofício de costureira.

Em 1938, surgiu a notícia de que haveria um concurso para agente fiscal e ele, mais que depressa, começou a freqüentar a Recebedoria de Rendas, como estagiário. Para se acertar com o Exército, entrou no Tiro de Guerra.

O anunciado concurso para agente fiscal gorou. Em 1939, ajudado por amigos e parentes, viajou para João Pessoa pensando em se inscrever no curso de classificador de algodão, previsto para o mês de abril. Inscreveu-se e foi aprovado. Fez o curso e se classificou no 15º lugar, sendo contratado para o cargo de Fiscal de Segunda Classe em 28 de junho daquele ano, conforme ato publicado no Diário Oficial do Estado. O melhor de tudo isso é que Deusdedit foi designado para servir na 7ª Região, cuja sede era Cajazeiras. Foi seu primeiro emprego público, aos 18 aos de idade, com o ordenado de duzentos e cinqüenta mil réis. Era muito dinheiro, confessa ele. No mês seguinte, foi promovido a Fiscal de Primeira Classe e seu chefe o designou para servir em São José da Lagoa Tapada, no município de Sousa.

O serviço era pouco, o que lhe facilitou fazer suas leituras.

De São José de Lagoa Tapada foi removido para a vila de Jatobá, para onde se transferiu a antiga vila de São José de Piranhas, que seria submersa pelas águas do Açude Boqueirão de Piranhas. Ali, Deusdedit viveu um dos bons períodos de sua mocidade e foi nesse tempo que iniciou suas pesquisas históricas, conforme revela em suas memórias, começando por fuçar os arquivos da Paróquia do padre Luiz Gomes Vieira.

Apesar de gostar de Jatobá, retornou, em 1940, à sua Cajazeiras para conviver com a família. A saudade de Jatobá, fê-lo retornar àquelas agradáveis paragens.

Vida Militar

De repente, em julho de 1942, Deusdedit foi convocado para o Exército. Estávamos em plena II Grande Guerra e Deusdedit, como os companheiros de 1921, foram convocados.

Ei-lo novamente em João Pessoa, para servir no 15º Regimento de Infantaria, onde foi designado inicialmente para a CM – 2, a Companhia de Metralhadoras do 2º Batalhão. Era comandante do Regimento o coronel José de Almeida Figueiredo, paraibano de Sousa, sobrinho do marechal José de Almeida Barreto, figura exponencial da Proclamação da República. O coronel Figueiredo tinha sido punido por ter participado do movimento comunista de 1935, tendo atingido o generalato e reformado como marechal. Coisas da anistia ampla.

A princípio acabrunhado, Deusdedit logo se adaptou à corporação e foi promovido a cabo. Transferido para a 7ª Companhia do recente batalhão criado – o III, findou indo patrulhar o litoral em Rio Tinto, acantonando na Baia da Traição, sob o comando do abusado tenente Lapenda. Depois de dois meses de praia, voltou a Rio Tinto. Seis meses de vilegiatura, e o retorno ao 15º R.I. Tentou fazer o Curso para Sargento, mas foi injustiçado pelo capitão Viana Moog, dando-lhe um conceito péssimo no final do curso. Perdeu o entusiasmo pelo Exército.

Foi para Aldeia, onde havia campos de treinamento especiais de adestramento para participar na guerra, pois o 15º R.I. era uma das unidades militares destinadas a preparar os que iriam para o “front”. Nos exames de seleção para participar da Força Expedicionária obteve a classificação “E” – especial. Já era candidato a herói. Seis meses depois, voltou a João Pessoa.

Ainda hoje Deusdedit vibra com os informes sobre as vitórias aliadas. E faz questão de recordar a conquista da primeira cidade francesa – Bayeux, ainda mais porque sua “companhia foi designada para prestar as continências de estilo à nação francesa e ao seu representante, Adido Naval Comandante Gayral, por ocasião das homenagens prestadas àquele país pelo transcurso da data comemorativa da Queda da Bastilha, símbolo da sua luta contra a tirania.” Era a oficialização da cidade de Bayeux, que substituía o nome de Barreiras.

A 13 de novembro de 1944 foi desligado do 15º R.I., retornando à vida civil.

Vida Pública

Apresentou-se ao Posto de Classificação do Depar-tamento de Produtos Agropecuários, em Cajazeiras, sendo logo designado para servir em Antenor Navarro.

No serviço público, foi um andarilho. E ele gostava dessa movimentação. Conhecia novos rincões, fazia novas amizades, ia colhendo dados para seus futuros trabalhos históricos sobre os municípios paraibanos.

Seu batismo de fogo na seara política aconteceu em Antenor Navarro, onde se agregou à UDN e votou pela primeira vez, em 1945, no Brigadeiro Eduardo Gomes. Perseguido politicamente, conseguiu sua transferência para Catolé do Rocha, onde passou dois meses e conseguiu ser removido para Sousa. Ele conta que em Catolé do Rocha a barra era pesada, mas não confirma que esse tenha sido o motivo que o levou a pedir sua transferência. Em Sousa continuou politicando, sempre ao lado da UDN, votando em Oswaldo Trigueiro para governador. De Sousa foi para Patos, em 1947.

Ele sempre foi um namorador. Em todo lugar se apaixonava, mas como vivia sempre de um lugar para outro, nunca se afeiçoou de mesmo. Em Patos, se engraçou duma menina que viu nos Correios. E aí foi o fim de suas aventuras. Era a garota Maria José César, que ele batizou logo de Mazé. Dessa empreitada ele não escapou.

Maria José Cezar era uma jovem bonita e simpática, gozando de popularidade em Patos, onde fora eleita Rainha da Festa nos festejos de Nossa Senhora da Guia, padroeira da cidade. Mazé acabou com a fama de namorador de Deusdedit.

Nessa fase, Deusdedit foi removido de Sousa para Pombal para instalar o Posto de Fiscalização naquela cidade. Manteve assídua correspondência com Maria José, visitando sempre Patos para rever a namorada.

Em 1947, conseguiu retornar a Patos. A força do coração fê-lo retornar. O que ele queria era está vendo com assiduidade a menina dos Correios. Com a chegada do pai de Maria José, em 20 de setembro de 1947, Deusdedit noivou.

Depois de conhecer o Coronel Migué, meteu-se na política udenista da cidade, ao lado de Ernani e Clóvis Sátiro, Walter Vieira, mas sua preocupação era os preparativos para o casamento. Casou-se em 1º de maio de 1948, com as bênçãos do padre Joaquim Ferreira de Assis.

Em Patos começou seu interesse maior pelos livros e jornais. Sua amizade com José Soares de Sousa muito serviu de estímulo, pois Soares era proprietário de uma livraria, que Deusdedit freqüentava “para conversar sobre literatura, política e outros assuntos predominantes da cidade”.

Em 24 de abril de 1949, por sua sugestão, foi fundado o Centro de Estudos e Pesquisas Históricas de Patos, uma instituição de relevante importância na vida intelectual de Patos. Foi aí também que Deusdedit emplumou-se para grandes vôos como escritor e historiador, passando a ler incessantemente grandes autores e fazer suas primeiras anotações.

Sentindo-se doente, foi para Campina Grande, em 1950, para tratar-se com Dr. Bezerra de Carvalho e Dr. Franklin de Araújo Filho, que lhe curaram as mazelas.

Em agosto de 1950, mudou-se para João Pessoa, mas em abril de 1951 foi removido para Cajazeiras, e em maio foi novamente removido, dessa vez para Sousa para chefiar o posto daquela cidade.

Quando Deusdedit esteve em Sousa, em 1947, havia fundado, com mais doze companheiros, o “Panelinha”, uma espécie de sociedade literária, justamente no dia em que se comemorava o centenário de nascimento de Castro Alves. Com o retorno de Deusdedit a Sousa voltou ao “Panelinha”, já dessa vez transformado em Sociedade Literária Castro Alves.

Dentro do seu entusiasmo intelectual, resolveu fundar uma revista e os participantes dos seus entreveros intelectuais concordaram. Foi assim que foi fundada a revista LETRAS DO SERTÃO, que era impressa na Tipografia Marques & Cia.

Em Antenor Navarro, já havia fundado A SOMBRA, o primeiro jornal impresso daquela cidade.

O lançamento da revista LETRAS DO SERTÃO foi feito no dia 2 de novembro de 1951, data do centenário de nascimento do Dr. Antônio Marques da Silva Mariz, tendo o lançamento ocorrido em uma sessão especial na União Operária Beneficente. A revista circulou até 1963, quando saiu o 26º número. Deu um paradinha e ressurgiu em 1967, mas diante das dificuldades naturais circularam apenas mais quatro números.

Deusdedit continuou como andarilho do serviço público. Chegado em 1951 a Sousa, em março de 1953, vinculou-se a São Gonçalo, para onde sua esposa Maria José foi transferida. Mas continuava entre São Gonçalo e Souza, pois ainda era o Chefe do Posto de Fiscalização, até que foi autorizado a permanecer em São Gonçalo.

Ali ele estava filiado ao Partido Libertador, pois era um americista inflamado. Chegou a se bandear para o Partido Socialista, quando se fantasiava de Esquerda Democrática, com a qual José Américo se enamorara no tempo de Hermes Lima e Domingos Velasco. Desaveio-se com o chefe político local e teve que ir para Cajazeiras, sua terra natal, onde estava sempre feliz.

Ali foi convidado para ensinar na Escola Técnica de Comércio Monsenhor Constantino Vieira, estabelecimento de ensino médio fundado pelo prefeito Octacílio Jurema, com o apoio do professor Afonso Pereira, presidente da Fundação Padre Ibiapina. Na Escola, lecionou História do Brasil e História Geral, e mais História Econômica e Administrativa do Brasil.

Colaborou com o jornal CORREIO DO SERTÃO, órgão de orientação católica, onde iniciou seus primeiros trabalhos sobre a História de Cajazeiras. Participou da Diretoria do Centro de Artes e Letras de Cajazeiras, restaurado pelo seu fundador Cristiano Machado. No âmbito da Escola Técnica, fundou o jornal O LÁBARO.

Também ensinou no Seminário Nossa Senhora da Assunção, convidado pelo reitor cônego Luís Gualberto de Andrade, o que lhe deu a visão escolástica que tem hoje, sob a orientação D. Zacarias Rolim de Moura.

Essa é a fase da expansão de suas tendências literárias, colaborando nos jornais CORREIO DO SERTÃO e O OBSERVADOR, dos quais era redator. Nesses jornais iniciou sua atração pelos temas genealógicos, publicando uma seção intitulada “Famílias Cajazeirenses”. Atuou como correspondente dos jornais CORREIO DA PARAÍBA, DIÁRIO DA BORBOREMA e DIÁRIO DE PERNAMBUCO, além de participar do programa A VOZ DO MUNICÍPIO, da Rádio Borborema.

Seu primeiro trabalho foi publicado naquela ocasião, em 1955, editado na Tipografia Rio do Peixe, com 43 páginas, ilustrado. Foi um ensaio genealógico, intitulado A FAMÍLIA SÁ NO MUNICÍPIO DE SOUSA.

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Durante todo esse tempo, andou pelo sertão todo. Nunca tinha saído da Paraíba, até que em junho de 1957 foi designado pela Escola Técnica de Comércio Monsenhor Constantino Vieira para representá-la no II Congresso Brasileiro de Ensino Comercial, em Belo Horizonte, de 21 a 27 de julho daquele ano.

Seguiu naqueles aviões pinga-pinga para o Rio de Janeiro e, depois de alguns dias na cidade maravilhosa, foi para Belo Horizonte, donde voltou ao Rio em ônibus da Viação Cometa. No Rio, já saudoso dos seus e de sua Cajazeiras, saiu da rodoviária para marcar a passagem de volta.

Quando retornou a Cajazeiras descobriu que alguns adversários políticos ensaiavam uma desatenção para com ele, via Maria José. Engendraram a transferência de Maria José para Cabaceiras, desalojando-a de Cajazeiras, o que significava também a sua transferência. Houve a interferência de D. Zacarias e o plano foi abortado. Mas, Deusdedit ficou muito sentido e resolveu sair daquele ambiente que passara a lhe ser hostil. Quis ir para Patos, mas por interferência do seu irmão Chicola conseguiu sua ida para a capital, onde foi servir no gabinete do major Jacob Guilherme Frantz, recentemente nomeado para o cargo de Secretário da Agricultura pelo vice-governador Pedro Gondim, que assumira o governo no impedimento do governador Flávio Ribeiro Coutinho.

Nesse gabinete a sua situação era incômoda, pois Deusdedit era um americista doente, e Jacob Frantz era do outro lado. Assumiu suas novas funções em março de 1958. A situação era indesejável, pela frieza com que era tratado por Jacob e seus auxiliares. Felizmente, foi escolhido para substitui-lo Elzir Nogueira Matos, que preferiu ficar consigo, uma surpresa inexplicável. Quando Elzir foi para a Secretaria de Finanças, levou-o como seu auxiliar, designando-o como Chefe de Gabinete, tornando-se nessas funções o homem forte da Secretaria.

Sob o bafejo de Elzir, o governador Pedro Gondim criou o cargo isolado de provimento efetivo de Assistente de Administração, padrão “Q”, nomeando-o em seguida para aquele lugar. Naquela sua habitual mansidão, Deusdedit considerou-se um homem de sorte. Das Finanças saiu para a Chefia de Gabinete da Secretaria do Interior e Justiça, sob o comando de Sílvio Pélico Porto, retornando depois para as Finanças.

Nessas andanças, como em outra futuras, teve sempre no seu encalço um ranço político pela lealdade que sempre guardou para com os que lhe distinguiam, sobretudo por ser um americista convicto.

Com a eleição e posse de Pedro Gondim, em 1961, volta Sílvio Porto para a Secretaria do Interior e Justiça, e Deusdedit para seu Chefe de Gabinete.

Ainda naquele ano, em face de alguns melindres burocráticos, conseguiu ser colocado à disposição da Faculdade de Medicina para ocupar o cargo de Secretário daquele estabelecimento, o que não aconteceu porque, não tendo curso universitário, um funcionário questionou sua posição, tendo Deusdedit ficado ora na Secretaria do Interior, ora na das Finanças, mas sempre prestigiado. Nas Finanças, em 1964, chegou a Secretário substituto .

Em 1965 aposentou-se como servidor do Estado, pressionado por Wilson Braga e Robson Espínola, para nomear em seu lugar um jovem universitário promissor: Luiz Augusto da Franca Crispim. Para ele, a substituição era vista com regalo, pois se tornou grande amigo de Luiz Crispim, dando-lhe a chance de uma vitoriosa carreira pública ao jovem acadêmico.

Não se afastou da vida pública, continuando a servir ao Estado ocupando funções gratificadas, passando por várias Secretarias e pela Universidade Federal da Paraíba.

Exerceu vários cargos além desses ligados às Secretarias, tendo ocupado a Sub-Chefia e a Chefia de Gabinete do Governo, na administração Ivan Bichara. Foi membro do Conselho Estadual de Cultura, da Comissão Central do Concurso de Habilitação da UFPB e do seu Museu da Imagem e do Som, criado pelo reitor Humberto Nóbrega.

Com a posse do vice-governador Dorgival Terceiro Neto, em substituição a Ivan Bichara, que renunciara para concorrer à Senatoria, deixou a Chefia da Casa Civil e foi designado como Diretor Comercial do jornal A UNIÃO, donde foi exonerado em 15 de março de 1979, quando Tarcísio de Miranda Burity assumiu o governo. Uma surpresa que ele ainda hoje procura descobrir o porquê.

Encerrou aí sua vida pública.

No Instituto de Genealogia

Deusdedit já havia se manifestado interessado na genealogia quando lançou seu primeiro trabalho escrito, a plaqueta A FAMÍLIA SÁ NO MUNICÍPIO DE SOUSA., em 1955, depois de exercitar-se publicando no CORREIO DO SERTÃO e em O OBSERVADOR a seção “Famílias Cajazeirenses”.

Na capital, tomou a iniciativa de consultar alguns pesquisadores sobre a possibilidade de organizar uma entidade destinada ao estudo da genealogia. Promoveu alguns encontros com o juiz Luís Sílvio Ramalho, jornalista José Leal, presidente da Associação Paraibana de Imprensa, e Sebastião de Azevedo Bastos, que já havia escrito um trabalho de fôlego sobre a família Azevedo e outras famílias no Nordeste.

Os resultados foram frutíferos, tendo, em 19 de novembro de 1967, sido fundado o Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica, em reunião realizada na sede da API. Além de Deusdedit, Ramalho e Bastos, compareceram os desembargadores Manuel Maia de Vasconcelos, Sebastião Sinval Fernandes e Paulo de Morais Bezerril, juiz João Sérgio Maia, professores Humberto Nóbrega e Paulo Pires. Outras figuras da intelectualidade paraibana assinaram a lista de presença. Deusdedit presidiu aquele Instituto durante algum tempo, continua freqüentando-o e é uma espécie de garantia para sua continuidade.

No Instituto Histórico

Em seu livro já citado, Deusdedit confessa seu interesse em se aproximar do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, freqüentando-o a convite de Sebastião Bastos. Sentia, porém, que seu presidente Clóvis Lima não o tolerava, tanto que várias vezes seu nome fora levado para ingressar no IHGP e ele teria vetado, apesar do interesse de Veiga Júnior, Celso Mariz, José Leal, Octacílio de Queiroz, Cônego Francisco Lima e outros confrades. Na presidência do Cônego Francisco Lima, a proposta de Sebastião Bastos foi acolhida, e Deusdedit ingressou no Instituto a 22 de novembro de 1962. Foi saudado pelo professor Afonso Pereira da Silva.

Nesses quase quarenta anos de convivência sua contribuição como historiador é um ponto alto do próprio Instituto.

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Pertence à Academia Paraibana de Letras, onde ocupa a cadeira nº 16, cujo patrono é o paraibano Francisco Antônio Carneiro da Cunha, Coronel do Exército, professor da Escola Militar do Rio de Janeiro e participante da Guerra do Paraguai. Foi o fundador daquela cadeira, pois a mesma estava vaga desde a fundação da Academia, em 14 de setembro de 1941.

Presume-se que a cadeira nº 16 ficou vaga durante 37 anos pela ausência de candidatos que pouco ou nada sabiam sobre aquela figura conterrânea. O convite para ocupá-la foi feito pelo então presidente da Academia, desembargador Aurélio de Albuquerque, e teve um sentido de desafio. Honrado com o convite, Deusdedit aceitou o desafio e, em seu discurso de posse pôde demonstrar sua vocação de pesquisador, evocando os traços biográficos do esquecido patriota conterrâneo, professor, cientista, poeta, parlamentar, biógrafo e um apaixonado pela terrinha.

Eleito para a Academia Paraibana de Letras a 06.05.1978, tomou posse naquela ano na cadeira n° 16. Exerceu vários cargos na Diretoria da Academia, sendo reeleito Tesoureiro várias vezes. Publicou vários trabalhos na Revista da APL.

Trabalhos publicados

É colaborador dos jornais e revistas do Estado, tendo publicado os seguintes trabalhos, além dos já citados na Revista do Instituto Histórico:

  • MOSSORÓ E O SERTÃO PARAIBANO
  • A FAMÍLIA SÁ NO MUNICÍPIO DE SOUSA
  • PRESENÇA DA PARAÍBA NA BIBLIOGRAFIA DE CORIOLANO DE MEDEIROS
  • SANTA LUZIA – ASPECTOS HISTÓRICOS
  • BACHARÉIS PARAIBANOS PELA FACULDADE DE OLINDA – 1832-1853
  • HISTÓRIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA
  • OS GOMES LEITÃO – RAMOS DE LAVRAS, CRATO E CAJAZEIRAS
  • SÃO JOSÉ DE PIRANHAS – NOTAS PARA A SUA HISTÓRIA
  • ELIZIÁRIO LEITÃO – Dados biográficos – Ascendentes – Descendentes
  • FONTES COLAMUS NOSTROS (Discurso no Jubileu de Praça do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica)
  • CORIOLANO DE MEDEIROS (Coleção Historiadores Paraibanos)
  • O ENSINO PÚBLICO NA PARAÍBA – SÍNTESE HISTÓRICA DA SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
  • MEMÓRIA DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA, de Celso Mariz (Aumentada e atualizada por Deusdedit Leitão)
  • CADEIRA NÚMERO DEZESSEIS (Discurso de posse na Academia Paraibana de Letras)
  • JOSÉ MEDEIROS VIEIRA – HOMO-ADMINISTRATIVO
  • VINGT-UN E A HISTÓRIA MUNICIPAL
  • A FUNDAÇÃO GUIMARÃES DUQUE E A BIBLIOGRAFIA DO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO
  • RUA DE TAMBAÚ
  • INVENTÁRIO DO TEMPO – Memórias

Morreu na madrugada de 1° de abril de 2010, em João Pessoa, aos 89 anos. É patrono da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal) cuja cadeira nº 11 é ocupada pelo seu filho, o jornalista Rui Leitão.

COM INFORMAÇÕES DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DA PARAÍBA

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