Compadre Kennedy

VALIOMAR ROLIM

Só se falava na aliança para o progresso. O presidente Kennedy, através do programa, mandava alimentos, roupas e calçados para o Brasil. Os americanos apostavam todas as fichas em nosso país. Uns diziam que o gesto era uma contribuição para com o país amigo, outros protestavam contra a dominação disfarçada que aquilo representava. Até parecia que éramos uma filial dos estados americanos.

Representando todas aquelas doações o presidente Kennedy, carismático, jovem, bonito e decidido, fazia ver ao Brasil sua benevolência com o terceiro mundo e, apesar das opiniões contrárias, fazia crescer entre os brasileiros a admiração pelo líder das terras do tio Sam.

Espalhavam-se, por todo o território nacional, homenagens ao mandatário americano. Por todos os cantos do país ruas, praças, creches, entre outros logradouros, que ganhavam seu nome. Tornava-se conhecido como se fosse uma personalidade nacional.

Em Cajazeiras, distante anos luz da mente do americano, Zeca Competino tomou uma decisão impar: convidar o presidente americano para ser padrinho de seu filho que, é claro teria emprestado o nome do patrono.

Procurou o Professor Assis, mestre de inglês do colégio Padre Rolim, para redigir a carta em que convidaria o personagem para a apadrinhar o pequeno Kennedy, pois assim já o chamava, em festança que seria realizada em sua residência.

A assessoria da casa branca encaminhou a carta com procuração ao embaixador americano no Brasil, que a substabeleceu ao cônsul americano no Recife, que a enviou com substabelecimento à casa civil do governo da Paraíba, que terminou por substabelecer o delegado de Cajazeiras como procurador de Kennedy para o batizado do filho do Zeca.

Zeca Competino era própria felicidade, ter como padrinho do filho o próprio presidente dos Estados Unidos? Era demais. A todos apresentava o garoto, era um orgulho só. Melhor seria se o padrinho viesse em pessoa para o batizado, mas isso seria mais que poderia sonhar, mas bem que sonhou.

Pouco tempo depois veio o desencanto. Passava pela rua quando de uma roda de amigos o chamaram. Queriam participar-lhe da morte do presidente americano. Acabara o sonho brasileiro de Zeca, acabara o sonho americano de Camelot.

Zeca Competino quase que desmaia, faltou-lhe terra no chão. Com tão pouca idade seu filho ficara órfão de padrinho? A reação foi inusitada, olhou para todos, fez  uma cara de tragédia e disse: “vou correndo avisar minha mulher, a essa hora comadre Jacqueline deve estar desesperada.”

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