A idolatria cega

Assistindo nesta semana a um documentário sobre Hitler, fiquei a refletir como a humanidade não consegue se libertar dessas mentes doentias que, vez por outra, são escolhidas como dirigentes ou líderes. A História é pródiga em manifestações dessa ordem. Homens que assumem o poder e conseguem exercer um feitiço coletivo fazendo com que uma enorme quantidade de pessoas os veja como divindades, salvadores da pátria, semi-deuses. É o que chamamos de idolatria cega.

Na idolatria, pessoas são colocadas num pedestal, sem que se percebam seus defeitos, como se o planeta se movimentasse por causa delas. O culto à personalidade dessas figuras conhecidas na história universal resulta de uma bem montada estratégia de propaganda, como aconteceu através da inteligência de Goebels em favor de Hitler. Ideologias propagadas como verdades absolutas, conceitos e valores totalitários, motivam esse marketing.

O povo se guia, então, muito mais pelo sentir do que pelo pensar. Perde a sua capacidade crítica, vislumbrando, no seu líder, poderes sobrenaturais, com ares de religiosidade. Nele se resumem as esperanças de solução de todos os problemas coletivos.

Os detentores de poder onde se verificam, ao longo do tempo, esse fenômeno da idolatria, são, com raras exceções, homens que subliminarmente impõem suas ideias, atraindo em torno de si um grupo de fiéis seguidores. Ficam acima do bem e do mal, porque possuem uma extraordinária capacidade de manipular pessoas.

Comumente chamados de ditadores, se encantam pelo poder de mandar e desmandar ao bel prazer. Há quem diga que todo ditador é psicopata. O psicopata não tem sentimentos, ele não tem sequer a noção de piedade, remorso, respeito ao próximo, até porque, ao seu entendimento, se coloca acima de todos. Na sua mente doentia acredita verdadeiramente que qualquer mal praticado vem em favor de uma causa que elegeu como prioridade, ainda que seja em seu próprio e exclusivo benefício. Por isso mesmo, tratam de forma opressora, e quase sempre, perversa, seus oponentes ou dissidentes. Seus fanáticos admiradores não aceitam qualquer crítica ao idolatrado.

As sociedades contemporâneas, por mais politizadas que possam ser, são surpreendidas, de vez em quando, com o aparecimento dessas personalidades com posturas autocráticas, a ponto de ousarem ameaçar uma democracia instalada. Se a consciência crítica do povo não se manifestar, eles ganham espaços para colocar em prática seus projetos absolutistas. A admiração cega, surda e muda, torna-se uma obsessão, perdendo a capacidade de discernimento, limitando-se a um sentimento incondicional de pertencimento. Portanto, reagir é preciso, antes que seja tarde.