Guerra ao fanatismo

Meu livro “Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero”, que está na editora, aborda a criação do primeiro bispado no sertão da Paraíba, inserindo-a no contexto nacional marcado pela reestruturação da Igreja Católica Apostólica Romana, depois que a República destituiu o catolicismo da condição de religião oficial do Estado brasileiro. Nessa época, prevaleciam fortes divergências no clero quanto às ações desenvolvidas pelo padre Cícero de estímulo às romarias a Juazeiro, após a divulgação do “milagre” da transformação da hóstia em sangue na boca da beata Maria de Araújo.

O prefácio foi elaborado por Carlos André Cavalcanti, professor da Universidade Federal da Paraíba, doutor e pesquisador de História das Religiões e Diversidade Religiosa, e líder dos Grupos Officium e Videlicet junto ao CNPQ. Carlos André escreveu vários livros e ensaios acadêmicos e no denso prefácio, ele deu à obra uma dimensão que honra qualquer escritor.  Antecipo a seguir, o que está escrito na orelha do livro, a ser lançado neste semestre, “Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero”.

Orelha.

Quais os efeitos da separação da Igreja do Estado imposta pela República? Por que o fanatismo religioso em torno do padre Cícero atemorizou a Igreja? Por que o Vaticano o puniu? A instalação do bispado em Cajazeiras se deve ao prestígio dos donos do poder local? A imagem do padre Inácio Rolim influenciou a escolha da sede da diocese? A Igreja se aliava aos coronéis? Como eram vistos os cangaceiros? Essas questões, isoladas na aparência, se encaixam sob o olhar crítico de Cartaxo Rolim, que encontrou respaldo acadêmico e percorreu, seletivamente, a história do Brasil, do ocaso do Império ao começo do século XX, para fundamentar ousadas afirmativas.

Fatores históricos nacionais e regionais, relacionados com a estratégia de atuação da Igreja, são esmiuçados no ensaio, no qual aflora a contradição entre a concepção da hierarquia católica e a crença popular na santidade do padre Cícero.

Tal descompasso é tratado aqui com isenção. A expansão territorial da Igreja no Nordeste, após a extinção do padroado, sofre a influência da decisão da cúpula do clero de estabelecer um cerco ao fanatismo religioso. Fanatismo derivado dos “fatos extraordinários do Joaseiro” e da transformação do padre Cícero em mito. Na ótica oficial, as romarias a Juazeiro representavam um perigo, numa época em que a sombra de Antônio Conselheiro ainda se projetava com vigor. Tudo isso, associado a alianças de coronéis e cangaceiros, assustava à Igreja no Brasil.

O livro esquadrinha fatos históricos, confronta opiniões contemporâneas dos acontecimentos. Daí as constantes referências à situação política e religiosa da Paraíba e do Ceará, no começo do século XX. Para isso, o autor recorreu à extensa bibliografia, cartas pastorais e outros documentos. E consultou centenas de exemplares do jornal A Imprensa, órgão oficial da diocese da Paraíba, fonte indispensável para captar o ponto de vista da Igreja acerca do fanatismo religioso e do papel exercido pelo padre Cícero.

Fruto de mais de dois anos de estudos, este livro procura desfazer, também, alguns equívocos repetidos pela tradição oral e incorporados pela historiografia paraibana. Emblemática é, por exemplo, a falsa disputa que teria havido entre cidades sertanejas para sediar o bispado, criado em 1914 no sertão da Paraíba.

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