O suicídio da mosca no copo de cerveja

Desde jovem frequentador dos botecos de minha estimada Cajazeiras-PB, vejo moscas se afogando em copos de cervejas geladas ou quente. Ato contínuo jogávamos irritados a bebida moscada, principalmente quando acabava de encher o copo americano mal lavado – boteco que é boteco não dá tempo de enxaguar nem com um detergentezinho de leve – e o dinheiro era curto. Éramos felizes e sabíamos.

Para o money da cerveja a pindaíba se foi, mas o xis da questão é a irritação do desperdício da água amarelada quando o planeta reclama de escassez hídrica. Esse é o primeiro ponto nevrálgico.

O segundo está mais complicado do que sabermos de onde viemos e para onde vamos. Se bem que, quando as moscas não resolvem mergulhar de ponta cabeça em nossos copos, sobra mais tempo para discutirmos porque o ser humano é idiota, mas tão idiota, ao ponto de não nos suportarmos por razões políticas, religiosas, etecetera.

Voltemos ao segundo ponto. Desculpem. Já estava me sentindo ao pé de um balcão de bodega em discussões filosóficas com um copo na mão. Sim, o segundo item é porque cargas d’água são sempre as moscas – segundo o DATAEDU – a caírem em nossos copos. .

Conversando com um amigo graduado em filosofia, um amigo lavador de carros, um jardineiro, e certa vez parei para ouvir um mendigo no calçadão do Conjunto Nacional de Brasília, convergimos no mistério da essência existencial do afogamento das moscas. Sabe qual é? É que a expectativa de vida delas está entre quinze e trinta dias. Isso mesmo. A subsistência da mosca não passa de um mês. Minha perplexidade aumenta no parágrafo a seguir.

Meu amigo, você sabe lá o que são apenas trina dias de vida? E daí zefini. Não mais do que isso! Eu, o filósofo, o lavador de carros, o jardineiro e o mendigo, se fôssemos moscas, concluímos, estaríamos sempre mergulhados em copos de cerveja como se fosse um desejo supremo.

Com essa descoberta do ciclo de vida exíguo do inseto, fiquei mais sensível e respeitoso pela autodestruição prazerosa desses pequenos voadores. Existem as moscas varejeiras que lambem feridas e narizes de defuntos em velórios. Essas são de mau gosto. Não sabem usufruir os prazeres da vida.

Agora quando vejo uma mosca naufragada num copo de cerva, observo pesaroso aquele díptero inerte naquele mar amarelo e dou graças a deus aos grandes mistérios da natureza, pois, nós homens, se fôssemos moscas, elas é que estariam nos olhando e sentindo-se consternadas com nossa curta vida.

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