Quando Gregório Bezerra esteve em Cajazeiras?

Gregório Bezerra esteve em nossa terra, a convite da Associação Universitária de Cajazeiras – AUC, para participar de debates durante a Semana Universitária, quando a entidade era presidida por Zé Filho. Luiz Alves, que já residia próximo do Recife, intermediou sua ida. Ele mesmo me contou, numa conversa recente. Luiz conheceu Gregório, logo após seu retorno do exílio, em 1979. Ambos estavam engajados na luta contra a ditadura.

Houve um lance inusitado.

Luiz teve uma surpresa ao convidar o velho revolucionário. Gregório aceitou de pronto, mas estabeleceu uma condição. Quero que vocês me arranjem um contato com três velhos conhecidos meus, disse Gregório, que moram em Cajazeiras. E declinou os nomes: Sabino Coelho, Otacílio Jurema e Cabeção. Luiz conhecia Sabino Comunista, com quem, aliás, se reunia na clandestinidade, Otacílio Jurema era conhecido de todos, mas o Cabeção… quem seria? Pensou e escondeu sua dúvida, na certeza de que, em Cajazeiras, a turma decifraria o enigma.

Quem era o tal Cabeção?

O médico Sabino Rolim Guimarães! Por coincidência, primo dos outros dois, todos netos do coronel Guimarães, o português que empresta o nome à rua que a gente chamava rua da Tamarina. Cabeção era o apelido de Sabino, no tempo de estudante no Recife, quando participava da luta política em prol das liberdades democráticas, em plena ditadura de Vargas.

Quem foi Gregório Bezerra?

Um trabalhador rural pernambucano que, analfabeto, após a morte do pai, migrou para o Recife, onde se fez biscateiro para sobreviver, sendo inclusive entregador de jornal. Só aprendeu a ler quando, ao servir o Exército, interessou-se em participar de seleção para o curso de sargento, no Rio. Depois, como sargento, trabalhou em quarteis do Recife e Fortaleza. Comunista assumido, foi preso muitas vezes. Eleito deputado federal constituinte de 1946, teve o mandato cassado em 1948, após o PC ter sido posto na ilegalidade. A última prisão ocorreu no dia 1º de abril de 1964, no interior. Foi trazido para o Recife debaixo de porrada e submetido à abjeta humilhação pública.

No dia 2 de abril de 1964, ocorreu o degradante espetáculo. Gregório foi obrigado a desfilar por várias ruas do bairro da Casa Forte, só de calção, com uma corda amarrada no pescoço, puxada de um jeep do Exército, feito um bode. A cena, presenciada por muitas pessoas, teve como protagonista da deprimente exibição o coronel Darcy Villocq, que, em depoimento, narrou a cena:

“Tomei um impulso. Peguei dois sargentos armados… ele saiu comigo com uma cordinha no pescoço, de leve. Não apertei”.

Alertado por um telefonema, Dom Hélder falou com o general Justino Alves, que ordenou a transferência de Gregório para outro quartel. As imagens foram mostradas nos noticiários de televisão. Gregório Bezerra ficou no cárcere até 1969, quando foi libertado junto com outros 14 presos políticos em troca da liberação do embaixador americano, Charles Elbrick, sequestrado por grupos que contestavam a ditadura militar. Regressou do exílio na União Soviética depois da anistia política, em 1979. Candidatou-se à Câmara Federal, pelo MDB, em 1982, sem sucesso, vítima de uma emulação eleitoral entre Miguel Arraes e Jarbas Vasconcelos, que terminou por sugar os votos das esquerdas em Pernambuco.

Gregório morreu em São Paulo, em 23 de outubro de 1983, aos 83 anos.  

P S – Cadê a entrevista com Gregório que Josival Pereira fez para a Rádio Alto Piranhas?

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