Promessa de amor além-túmulo (final)

Doze dias depois do fatídico evento, em 5 de outubro, por volta das 8 h da manhã, a jovem e inconsolada Ágaba, conduzindo às mãos uma grinalda de flores, lábios trêmulos, preces íntimas e silenciosas, olhos fixos no chão sem se aperceber dos que a observavam, caminha sozinha em direção ao cemitério.

Em lá chegando, ajoelha-se, reza e chora… Segundo relatos dos que a observavam, num gesto súbito, ergue-se e, batendo com as mãos na lápide fria da sepultura, com a voz entrecortada de soluços e emoções, fala baixinho: “Adeus, Sady, até amanhã por essas mesmas horas!”

Agora são 6 de outubro, meio-dia e meia, em sua residência, Ágaba, num ato que para ela parecia heroico, extremamente pálida, sorve resolutamente o conteúdo de um frasco de arsênico que havia buscado em um aposento/depósito do seu pai. Recolhe-se ao seu quarto, já sofrendo os estertores da morte. Mesmo assim, ainda consegue escrever três cartas, das quais duas permaneceram com a família, mas de cujo conteúdo o público não teve conhecimento.

Ao final da escritura da terceira carta, começam a advir os efeitos do fatídico veneno. Já eram por volta de 4 h quando a jovem, agonizante a agonizando no seu leito branco e virgem de donzela, cercada por familiares prostrados pela imensa dor que os feria e que nada mais podiam fazer diante das limitações médicas da época, assistem aos derradeiros momentos de uma tragédia ditada pela exaltação do amor, acompanhando o último suspiro da filha que se ia para junto do amado.

Novamente, repete-se o mesmo cortejo: jovens colegas, uma mocidade tristonha, rumam ao mesmo cemitério em que ela chorou e em que estava Sady enterrado. Em sua lápide ficou estampado o epitáfio: “Ágaba Gonçalves de Medeiros aqui jaz – Viandantes do destino, orai por ela, a vítima do amor e da dedicação!”

Ali permanecem, em tumbas vizinhas, os restos mortais de Ágaba e Sady, bem próximos, mas muito distantes, talvez buscando ambos, na eternidade dos fatos, uma união que não lhes tinha sido possível concretizar em vida. Mas, apesar de mortos, continuaram juntos.

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