O sentimento de culpa provoca o medo

É normal que os indivíduos que carregam um sentimento de culpa por algo de errado que fizeram, comportem-se como quem está preso a um passado que atormenta. Quando não deixam transparecer publicamente o medo das consequências, choram às escondidas, nem sempre por arrependimento ou remorso, mas, principalmente, pela vergonha da iminente desmoralização e do receio de que sejam punidos severamente pelo que fizeram.

Na sensação de que a justiça está próxima a emergir, eles, torturados pela bússola moral interior, experimentam uma preocupação com o futuro, na convicção de que a verdade está por se revelar. Vivem numa nuvem de culpa, sentenciados pelo próprio julgamento. Porém, o egocentrismo não lhes oferece a oportunidade de explicitarem manifestações de compunção. São vaidosos demais para adotarem uma atitude de humildade diante de todos, confessando seus erros.

Não conseguem confidenciar suas dores com outros, preferindo chorar sozinhos, sem que ninguém os veja atacados pela angústia e o desespero. A reprovação pública suplicia os arrogantes, porque têm dificuldade em admitir responsabilidade nas transgressões cometidas. O temor de se revelarem imperfeitos.

Apavoram-se com a rejeição social que sabem ocorrerá, quando a culpa não for apenas resultado de um autojulgamento, mas da condenação que se faz irrefutável publicamente. É o que Freud chama de tensão entre o “eu verdadeiro” e o “eu idealizado”. A sanção aplicada pela própria instância crítica, provocando um desequilíbrio psíquico que produz infelicidade.

Quando vejo alguém dizer que “chora sozinho no banheiro”, imagino que está sofrendo as dores de assumir a atitude consciente, mas silenciosa, de suas culpas. O problema é que não há cura para a culpa. E assumir-se culpado perante o mundo, é algo que aflige os que alimentam pensamentos e emoções de interesse próprio, têm o ego inflado e se supervalorizam. Sofrendo no silêncio, entram em estado de aflição com os gritos da própria alma. Tornam-se carrascos de si mesmos.

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