O Padre Mestre

Perguntar-me-ão os leitores por que, vez por outra, estou retomando o assunto escola, colégio, magistério… É que, já transcorridas seis décadas que exerço a nobre missão de procurar ensinar, isto é, tentando sempre exercer a profissão de professor, sigo ainda, caminho afora, envaidecido de haver nascido e iniciado esta minha nobre atividade na cidade onde o Padre Mestre também o fez.

Vêm-me daí algumas reminiscências relativas aos passos iniciais dos quais se originou o primeiro colégio em nossa cidade, aliás, façanha que fez Cajazeiras ser chamada de “a cidade que ensinou a Paraíba a ler”, nos dizeres do tribuno Alcides Carneiro. São apenas dados que sempre são lembrados por quem se interessa pelo assunto.

O padre Inácio iniciou sua vida escolar, oficialmente, em 1816, no Crato, como aluno do Padre José Martiniano de Alencar, pai do famoso escritor homônimo, cujos estudos tiveram que ser suspensos em função da Revolução de 1817, mas não há como negar que foi ali o berço de sua formação cultural.

Em 3 de setembro de 1822, partiu para internar-se no tradicional Seminário de Olinda. Foi ordenado presbítero em 2 de outubro de 1825, permanecendo na cidade pernambucana, ocupando o cargo de Reitor e buscando aperfeiçoar-se nos estudos de várias línguas, vivas ou mortas: português, francês, italiano, espanhol, inglês e alemão, além de latim, grego, sânscrito, hebraico, o que fez dele reconhecido poliglota no cenário nacional.

Volta à sua terra somente em 1829 quando, então, ao lado das atividades eclesiásticas, dá início em definitivo às suas ações no magistério, na sua ânsia de ensinar, portanto, de ser útil.

A sua casa, localizada, então, no sítio Serraria, foi transformando-se numa modesta sala de aula, na medida em que iam surgindo os alunos.

Pode-se dizer, então, que aí se formou o embrião do nossa primeira escola e, consequentemente, do nosso primeiro colégio, exatamente quando ele resolve transferi-la para a povoação, no ano de 1836, instalando-se num pequeno prédio residencial que melhor se adaptava às suas atividades docentes. Mas a busca dos seus ensinamentos fê-lo verificar que as condições físicas do ambiente excediam suas necessidades educativas, levando-o a fazer construir um pequeno prédio para abrigar o incipiente colégio.

Por essa época (1836), a pedido de sua mãe, a mãe Aninha, deu início também à construção da igreja, do açude e daquela casinha onde, algum tempo depois, foi construído o Cajazeiras Tênis Clube. Era o ano de 1843, quando a escola começou, mais intensamente, a receber alunos de vários estados do Nordeste – Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão –, ensejando dar início à construção do colégio como tal, que depois se tornou o primeiro estabelecimento de ensino do Estado.

Em 1855, o Padre Mestre teve que interromper as suas atividades docentes em nossa cidade, confiando a sequência dos seus trabalhos ao seu sobrinho Padre José Tomaz de Albuquerque. É que por solicitação, quase uma exigência, do Presidente do estado de Pernambuco, Dr. José Bento da Cunha Figueiredo, passou a lecionar, na cadeira de Grego, no tradicional Gymnasio Pernambucano, assumindo, ao mesmo tempo, o cargo de regedor do ginásio (espécie de diretor), onde permaneceu por dois anos, quando então retorna às suas atividades educacionais e eclesiásticas em nossa cidade. Até 1877, o colégio floresceu, porém, por essa época, com o advento de uma enorme seca, arrefeceu o prestígio do estabelecimento escolar.

Em vida, o Padre Mestre nos deixou duas obras monumentais, pelo menos para a época: História Natural e a Gramática Grega. Quantos alunos por ali passaram: Cardeal Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcante, filho do antigo sítio Fundão, interior de Pernambuco, depois transformado na próspera cidade de Arcoverde, tornando-se o primeiro cardeal da América Latina; padres Manoel Mariano Gadelha, José Tomaz de Albuquerque, que dão nome a duas importantes artérias da cidade; Cícero Romão Batista, que, quando aluno, já demonstrava a vivacidade e o carisma que o imortalizaram tempos depois; o futuro desembargador José Peregrino, Dr. Aprígio de Sá, Irineu Jofilly, Ruy Carneiro e inúmeros outros que vieram a se tornar insignes na vida nacional.

Daí em diante, por ser mais recente, o Colégio Padre Rolim passa a ter vida própria, mas a historia é bem mais conhecida, e a ela pretendo voltar oportunamente.

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