Lá pelos anos 150, sim, isto mesmo, cento e cinquenta depois de Cristo, viveu um médico romano de origem grega chamado Cláudio Galeno. No período greco-romano, naquelas paragens, a medicina se aliava à filosofia. Era bastante comum, portanto, que os filósofos se interessassem pela missão médica e vice-versa. Foi o caso do nosso citado amigo Cláudio ou Claudius em latim.
Devemos muito a esses médicos investigadores, como eram denominados. Foram deles os primeiros escritos, ou seja, a doença na sua forma registrada, a pesquisa na sua forma perpetuadora do conhecimento, o saber na sua forma de auxílio aos profissionais do futuro.
Herdamos do fazer investigativo de antigamente a arte de buscar na natureza nossos medicamentos mais apropriados. Os três reinos à disposição: vegetal, animal e mineral, com seus micro-organismos curadores. Os estudiosos se debruçavam nesse aparato divinizado para encontrar as soluções para os problemas físicos. E ainda há muito o que se descobrir e estudar.
Uma doença que começou a ser detectada e esmiuçada na época foi a tuberculose. De tísica era chamada pelos médicos, à luz de Hipócrates, o pai grego da medicina. É para ele toda a glória científica relacionada aos estudos mais detalhados e oferecidos à sociedade daquele contexto. Algumas correntes historiográficas divergem, e isso é louvável. Divergir com elegância é bom. Alguns dizem que os latinos distorceram o arcabouço hipocrático; outras dizem que os dois se complementaram. Mas, independentemente disso, o diagnóstico era aquele que já conhecemos: uma espécie de supergripe, que pode levar à total interrupção dos canais respiratórios e, por consequência e gravidade, os sanguíneos.
De acordo com o também Cláudio, o professor Cláudio Bertolli Filho, autor de História Social da Tuberculose e do Tuberculoso (1900-1950), o receituário greco-latino ganhou a dimensão de verdade sacramentada. Para encontrar a sonhada cura, o paciente era submetido a certos remédios, que podem parecer estranhos: pulmão de lobo cozido em vinho, acompanhado de uma bebida composta de bile de urso, saliva de cavalo e mel. Outros receitavam carne de lebre e de caracol e a combinação de pó de chifre de cervo e um pouco de terra da ilha de Samos: tudo isso diluído em vinhos de murta. O leite, especialmente de origem bovina, complementava quaisquer descrições medicamentosas. Mais uma forma de tratamento: a aplicação de substâncias extraídas do pinho e da mirra e chás de licorice (liquorice ou alcaçuz), violeta, hissopo e pulmonária. A climatoterapia também era uma solução: consistia em migrar o paciente para um local quente e seco.
E quando a doença alarmante se instalou no Brasil, no início do século 20, em atuação estavam os heróis do Movimento Sanitarista. Mas isso só cabe mesmo noutra crônica. Desejo saúde para todos.