Por que Ivan Bichara foi preso?

Mesmo não tendo participado da Intentona, alguns integralistas paraibanos foram detidos para averiguação. Muitos foram soltos logo em seguida e prosseguiram os principais presos na Fazenda São Rafael, a mesma em que os comunistas haviam sido colocados: o chefe Agostinho Serrano, junto com Arquimedes da Silveira Júnior (…) Ivan Bichara (…) e Luís Miranda. Por pouco mais de trinta dias, os integralistas foram mantidos em cela”,

Dez ao todo. Todos citados em A Ação Integralista Brasileira na Paraíba (1933-1938), um extrato da dissertação de mestrado, do professor Renato Elias Pires de Souza, mestre em História, pela UFCG. O texto de Renato integra o livro: Regime de interventorias: política e sociedade na Paraíba da era Vargas (1930-1945), (Editora UFPB, 2020). São 12 instigantes ensaios, organizados por Martinho Guedes dos Santos Neto e Waniéry Loyvia de Almeida Silva, também autores de interessantes abordagens acerca das interventorias de Anthenor Navarro (1930-1932) e Argemiro de Figueiredo, (1935-1940), respectivamente, sendo que, no caso do campinense, se inclui os meses como governador eleito pela assembleia estadual constituinte. O período de Gratuliano Brito (1932-1934) ficou a cargo de Bento Correia de Sousa Neto, enquanto a interventoria de Ruy Carneiro mereceu análise de Jean Patrício da Silva.

O trabalho de Renato Souza, inserido na segunda parte do livro, mostra Ivan Bichara como dirigente estadual integralista, já em 1936, na qualidade de Chefe do Departamento P. dos Estudantes da AIB-PB. Nada estranho. Hélio Silva, em 1938-Terrorismo em campo verde, (Editora Civilização Brasileira, 1971) cita Ivan como membros da delirante Câmara dos Quatrocentos, ao lado de figuras como Câmara Cascudo, Pio Sampaio, Colombo de Sousa e do então capitão Olímpio Mourão Filho.

É conhecida a militância integralista de Ivan, mas que ele teria sido preso, poucos recordam. Nem seu neto, ocupante da cadeira 23, da ACAL, Guilherme Sargentelli, me socorreu. Mas está pesquisando, me disse, inclusive entre seus parentes. A mim surpreende, porém, sem espanto, pelas razões que alinho a seguir.    

Ivan Bichara Sobreira saiu de Cajazeiras, em 1936, após cursar o Colégio Padre Rolim, em período muito conturbado por causa do cangaço, do movimento revolucionário de 1930, da seca de 1932 que, aliás, forçou o fechamento temporário do famoso educandário. Ivan chega à capital aos 18 anos de idade, com razoável base humanista e fortes convicções ideológicas, sob a influência da Igreja e do meu parente e padrinho Cristiano Cartaxo, que me levou a conhecer alguns livros, ler Machado de Assis, Eça de Queiroz, como ele próprio revelou, bem mais tarde, em entrevista ao jornalista Severino Ramos.  

Ora, Cristiano Cartaxo era integralista, leitor de Plínio Salgado, de revistas e jornais católicos, de modo que, já aluno do Lyceu Paraibano, em 1936, Ivan logo se fez revisor, repórter e redator do jornal A Imprensa, da arquidiocese da Paraíba. Engajar-se na luta do bem contra o mal, própria do sectarismo ideológico peculiar aos anos 30, não foi senão um passo a mais. Ter sido preso com a camisa verde, portanto, foi mera consequência de sua formação intelectual e de sua história quando jovem, numa fase da ditadura Vargas começava a descartar com violência os integralistas e suas ingênuas milícias em desfiles públicos.  

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