O Golpe de 64

No dia primeiro de abril de 1964 o Brasil acordava com as notícias de que estava deflagrado um movimento de deposição do presidente João Goulart, com tropas militares mineiras avançando em direção ao Rio de Janeiro, onde ele se encontrava naquela madrugada. Muitos brasileiros torciam para que o noticiário a respeito não passasse de uma brincadeira do “dia da mentira”. Infelizmente não era. Portanto, a data do golpe não foi 31 de Março, mas os autoproclamados revolucionários, procurando livrar o episódio de possíveis gozações, decidiram adotar esta data como a oficial do evento.

O espectro do golpe de Estado já rondava o Palácio do Planalto desde a posse de Jango na Presidência de República. Havia por parte dos diversos segmentos da burguesia, articulados com setores da imprensa, empresariado, ruralistas e o clero conservador, um movimento de reação contra as reformas de base que seu governo procurava implementar. A tônica dos discursos era a corrupção, a subversão e a ameaça de comunização. As crises econômico-financeira e político-institucional vividas à época ajudavam as classes dominantes, através de suas forças políticas, a produzirem um sentimento de oposição ao governo.

Na verdade, motivando as manobras golpistas, estava a manifestação de temor das elites com as mudanças sociais que ameaçavam seu poder econômico. A redução das desigualdades sociais se apresentava como um perigo para a manutenção das forças conservadoras no controle da vida nacional. Era preciso frear uma revolução socialista que se propunha ser efetivada.

A partir dessa pregação, mobilizaram parte da opinião pública para alguns grandes movimentos de rua, como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que aconteceu em 19 de março, em São Paulo, com a presença em torno de quinhentas mil pessoas. A estratégia de convencimento popular contou com a colaboração dos principais órgãos de imprensa do país, inclusive dando ampla repercussão a essas organizadas movimentações de rua, na intenção de passar para o resto do país a impressão de que as massas apoiavam a insatisfação com o governo.

O golpe iniciado pelas Forças Armadas, teve continuidade no parlamento, com o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, decretando a vacância da presidência da república, na oportunidade em que Jango se deslocava para o Rio Grande do Sul. Estava aí consolidado o golpe civil-militar, que nos levou a viver duas décadas de uma ditadura que queremos esquecer.

A democracia estava derrotada, na ocasião em que pela ruptura da ordem jurídica, se fazia a substituição de um presidente legitimamente eleito pelo voto popular. Atos de mudança de governo que se caracterizam pela ilegitimidade e desrespeito aos preceitos constitucionais, não têm outro nome, é golpe. Por isso, é inapropriado classificar aquele acontecimento, como os militares por muito tempo fizeram, de um ato revolucionário.

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